João, Maria e as migalhas de pão virtuais
em Arquitetura de Informação
Você teve infância e conhece o conto "João e Maria" [Hanzel und Gretel], de Jakob e Wilhelm Grimm? Se não, dê um pulinho em algum site e leia esta triste história de duas crianças abandonadas por seu pai na floresta escura. Como todo conto de fadas, este teve as mais diversas interpretações psicológicas. Mas o que nos interessa mesmo são as pedrinhas brilhantes e as migalhas de pão.
Durante o primeiro passeio na floresta, João foi largando pedrinhas brilhantes pelo caminho. Deste modo, quando o seu pai cumprisse o plano e os abandonasse, eles poderiam seguir a trilha das pedras [mesmo que já tivesse anoitecido] e voltar para casa. Funcionou perfeitamente. Porém, antes do segundo passeio, não houve tempo para pegar as pedrinhas. Então usaram migalhas de um pedaço de pão. Aí veio os passarinhos, que comeram tudo, e então apareceu a bruxa, bla, bla, bla...
Muitos usam uma analogia da floresta escura para os seus próprios websites. Acham que seu conteúdo é tão denso e profundo e seus usuários são tão inocentes, que é necessário jogar pedrinhas brilhantes pelo caminho para ajudar o usuário a voltar para a homepage ou para algum outro ponto no meio do caminho.
Sim, o que nós chamamos de breadcrumbs nos sites são na verdade as pedrinhas da história. Isso porque eles ficam lá e não há passarinho ou usuário que os tire do caminho. O que temos hoje de mais próximo das efêmeras migalhas é o Histórico do navegador. Além disso, já ouvi de alguns estudos para implementar um histórico na própria interface do site. Algum cookie iria armazenando, de modo provisório ou permanente, todas as páginas onde o usuário esteve. Mas não conheço um site que tenha utilizado um recurso assim com algum sucesso.
Acredito que o grande desafio consiste em evitar ao máximo estes sites densos, onde o usuário não se sinta amedrontado em navegar livremente e achar conteúdos mais interessantes dos que ele estava imaginando encontrar. Ou então, expor claramente os níveis de profundidade através da criação gráfica ou de indícios no conteúdo. Mas nem sempre isso é possível, e às vezes temos que utilizar mais de três níveis de profundidade em um website. Neste caso, eles podem ser muito eficientes.
Não devemos considerar os breadcrumbs como a salvação da colheita, principalmente em sites pequenos. Nestes casos, eles denuciam um problema maior de navegação e estrutura do conteúdo, sendo assim nada mais do que paliativos, ou no mínimo, propostas desprovidas de criatividade. Portanto, use-os como se fosse o último recurso disponível.