Máquinas piscantes
em Usabilidade no mundo real
Hoje vi no The History Channel um documentário interessantíssimo sobre a tecnologia nos Cassinos. Achei fascinante a história dos caça-níqueis.
Artefato criado no final do século passado durante a corrida do ouro californiana, os caça-níqueis eram um divertimento para o público ávido por riqueza fácil do Velho Oeste. Dentre tantas atividades de caráter duvidoso, este era um entreternimento dos mais inocentes. Ele só ganhou má fama durante a Lei Seca, quando foi associado aos pontos clandestinos de venda de bebida alcóolica. Atualmente, mesmo os cassinos sendo reconhecidos como um negócio qualquer, ainda há uma percepção de atividade ilícita. Os jogadores são capazes de coisas em paraísos como Las Vegas e Atlantic City, que não fariam em casa, com a família por perto.
No Brasil, a má fama persiste. Deve ser por causa da ligação dos caça-níqueis com jogo do bicho. Pode ser também por eles estarem nos botecos mais sujos da cidade. Não sei.
Esta máquina sofreu apenas duas grandes transformações ao longo de mais de cem anos. Na década de 60, os mecanismos foram parcialmente substituídos por componentes eletroeletrônicos. Em 1975, com a influência dos videogames, foi lançado o primeiro modelo usando monitores de vídeo e programação em chips. Mas estes modelos não foram bem recebidos pelos usuários. Eles sentiam falta do barulhinho dos tambores cilíndricos. Tanto que, ainda hoje, podem encontrados modelos utilizando os tambores. Exceção mesmo, só o vídeo-poker. E isto acontece mesmo com a mudança do público-alvo nestes trinta anos. Atualmente, este público usa sistemas computadorizados para obter informações, ir ao banco, falar ao telefone. Não há dúvidas que este usuário confia no computador. Tanto que estes devem ser os mesmos usuários dos cassinos on line. Podemos, então, presumir que a opção pelas máquinas barulhentas é meramente emocional?
As cores e os elementos visuais presentes num caça-níqueis são exaustivamente testados para atrair o cliente. Do mesmo modo, são analisados a disposição das máquinas em um salão, a ausência de relógios, a músiquinha que toca apenas notas que deixam clientes felizes, entre outros fatores. Existe até o boato sobre o nível de oxigênio nos salões. Dizem que os cassinos aumentam a quantidade de oxigênio para evitar que os apostadores se cansem muito. Torna-se evidente que o ambiente [que está sobre o controle do gestor do recurso, pena que com websites não temos esta sorte] é planejado para oferecer o máximo de conforto. Imagine um jogador lembrando que está lá há doze horas porque está com dor nas costas. Prejuízo!
Acredito que esta interação do apostador com o caça-níqueis deve ser a primeira experiência de satisfação entre homem-máquina. Uma experiência que os fabricantes fazem o impossível para que se torne quase obsessiva. Uma experiência que, em certo grau, podemos aproveitar sim para os nossos sites do dia-a-dia. Nada de musiquinhas alegres ou coisas piscando, claro, mas o conceito de controle do ambiente é interessante e totalmente inexplorado (e ignorado em muitas avaliações sérias de usabilidade... mas disso falo depois...)
Outras coisas:
- Mais sobre a história dos caça-níqueis.
- IGT, fabricante de caça-níqueis. Há alguns mapas de sugestões para a distribuição das máquinas em um salão, além de informações sobre os sistemas.
- Acho que toda esta fascinação sobre estas maquininhas barulhentas não vêm da atração pelo jogo em si. Esbanjar dinheiro não é comigo. é que eu adoro CSI Las Vegas, o original. 8;)